Zambra
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História do
Povo Cigano
“A sobrevivência foi à realização mais duradoura, o
grande evento, da história cigana”. Por isso Angus Fraser, autor do melhor
trabalho historiográfico sobre ciganos, escreve na primeira página de seu
livro:
“Quando se consideram as vicissitudes” que eles (os
ciganos) encontraram, porque a história a ser relatada agora será antes de tudo
uma história daquilo que foi feito por outros para destruir a sua diversidade,
deve-se concluir que a sua principal façanha foi a de ter sobrevivido. (...)
Os Ciganos são chamados de "povos das estrelas" e
dizem que apareceram há mais de 3.000 anos, ao Norte da Índia, na região de
Gujaratna localizada margem direita do Rio Send. No primeiro milênio D.C
deixaram o país e se dividiram em dois ramos: o Pechen que atingiu a Europa
através da Grécia; e o Beni que chegou até a Síria, o Egito e a Palestina.
Existem vários clãs ciganos: o Kalê (da Península Ibérica); o Hoharano
(da Turquia); o Matchuaiya (da Iugoslávia); o Moldovan (da Rússia) e o
Kalderash (da Romênia).
Porém de acordo com a nossa Tradição, a teoria mais freqüente sobre a
origem do Povo Cigano, é que após um período de adaptação neste planeta, os
ciganos teriam surgido do interior da Terra e esperam que um dia possam
regressar ao seu lar.
Nada mais podemos revelar sobre isto, pois se trata de um dos nossos
"segredos" mais bem preservados. Preste atenção à nossa
trajetória e use com sabedoria a sua imaginação.
O grande lema do Povo Cigano é: "O Céu é meu teto; a Terra é
minha pátria e a Liberdade é minha religião", traduzindo um espírito
essencialmente nômade e livre dos condicionamentos das pessoas normais
geralmente cerceadas pelos sistemas aos quais estão subjugadas.
Em sua maioria, os ciganos são artistas (de muitas artes, inclusive a
circense); e exímios ferreiros, fabricando seus próprios utensílios domésticos,
suas jóias e suas selas.
Os ciganos sempre levaram uma vida muito simples, fabricando tachos,
consertando panelas, vendendo cavalos, (atualmente vendem carros); fazendo
artesanato (principalmente em cobre - o metal nobre desse povo) e lendo as
cartas ciganas para ver a "buena dicha" (boa sorte).
Na verdade cigano que se preza, antes de ler a mão, lê os olhos das
pessoas (os espelhos da alma) e tocam seus pulsos (para sentirem o nível de
vibração energética) e só então é que interpretam as linhas das mãos.
A prática da Quiromancia para o
Povo Cigano não é um mero sistema de adivinhação, mas, acima de tudo um
inteligente esquema de orientação sobre o corpo, a mente e o espírito, como
também sobre a saúde e o destino.
O mais importante para o Povo Cigano é interagir com a Mãe Natureza
respeitando seus ciclos naturais e sua força geradora e provedora.
Mitologicamente o Povo Cigano está ligado à Kalí - a deusa negra da
mitologia hindu, associada a figura de Santa Sara, cujo mistério envolve o das
"virgens negras", que na iconografia cristã representa a figura de
Sara, a serva (de origem núbia) que teria acompanhado as três Marias: Jacobina,
Salomé e Madalena, e, junto com José de Arimatéia fugido da Palestina numa
pequena barca, transportando o Santo Graal (o cálice sagrado), que seria levado
por elas para um mosteiro da antiga Bretanha. Diz o mito que a barca teria
perdido o rumo durante o trajeto e atracado no porto de Camargue, às margens do
Mediterrâneo, que por sua vez ficou conhecido como "Saintes Maries de La Mer ", transformando-se
desde então num local de grande concentração do Povo Cigano.
Santa Sara é comemorada e reverenciada todos os anos, nos dias 24 e 25
de maio, através de uma longa noite de vigília e oração, pelos ciganos
espalhados no mundo inteiro, com candeias de velas azuis, flores e vestes
coloridas. Também fazem parte desta vigília muita música e dança cujo
simbolismo religioso representa o processo de purificação e renovação da
natureza e o eterno "retorno dos tempos".
O líder de cada grupo cigano chama-se Barô/Gagú e é quem
preside a Kris Romanis (Conselho de Sentença ou grande tribunal do povo
rom) com suas próprias leis e códigos de ética e justiça, onde são resolvidas
todas as contendas e esclarecidas todas as dúvidas entre os ciganos liderados
pelos mais velhos. O mestre de cura (ou xamã cigano) é um Kakú (homem ou
mulher) que possui dons de grande para-normalidade. Eles usam ervas, chás e
toques curativos.
Os ciganos geralmente se reúnem em tribos para festejar os ritos de
passagem como o Nascimento, a Morte, o Casamento e os Aniversários e acreditam
na Reencarnação (mas não incorporam nenhum espírito ou entidade). Estão sempre
reunidos nos campos, nas praias, nas feiras e nas praças.
Os ciganos chegados em Andaluzia no séc. XV vieram do norte da Índia,
da região do Sind (atual Paquistão), fugindo das guerras e dos invasores
estrangeiros (inclusive de Tamerian, descendente de Gengis Khan). As tribos do
Sind se mudaram para o Egito e depois para a Checoslováquia, Rússia, Hungria e
Polônia, Balcãs e Itália, França e Espanha. Seus nomes se latinizaram (de
Sindel para Miguel; de András para André; de Pamuel para Manuel, etc.).
O primeiro documento data a entrada dos ciganos na Espanha em 1447 e
esse grupo chamavam a si mesmos de "ruma calk" (que significa homem
dos tempos) e falavam o Caló (um dialeto indiano oriundo da região do Maharata).
Eles trouxeram a música, a dança, as palmas, as batidas dos pés e o ritmo
quente do "flamenco", tanto que essa palavra vem do árabe
"felco" (camponês) e "mengu" (fugitivo) e passou a ser
sinônimo de "cigano andaluz" a partir do séc. XVIII.
Esse povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza, pois para o
cigano a vida é uma festa e a natureza que o rodeia a mais bela e generosa
anfitriã. Onde quer que estejam os ciganos são logo reconhecidos por suas
roupas e ornamentos, e principalmente por seus hábitos ruidosos. São um povo
cheio de energia e extremamente passionais e são tão peculiares dentro do seu
próprio código de ética, honra e justiça. Seu sentimento de liberdade contagia
e incomoda qualquer sistema.
Porém, a comunidade cigana ama e respeita a natureza, os idosos e
todos os membros do grupo educam as crianças de todos, dentro dos princípios e
normas próprios de uma tradição puramente oral, cujos ensinamentos são passados
de pai para filho ou de mestre para discípulo, através das estórias contadas e
das músicas tocadas em torno das fogueiras acesas e das barracas coloridas
sempre montadas ao ar livre (mesmo no fundo do quintal das ricas mansões dos
ciganos mais abastados).
As crianças ciganas normalmente só freqüentam até o 1o. Grau nas escolas
dos gadjés (não-ciganos), para aprenderem apenas a escrever o próprio nome e
fazer as quatro operações aritméticas. A maioria das crianças não vai à escola
com receio do preconceito existente em relação a elas. Claro que com o
acelerado processo de aculturação, um bom número de ciganos,
disfarçadamente, está freqüentando as universidades e até ocupando
cargos de importância na vida pública do país. Alguns são médicos, dentistas,
engenheiros, advogados; alguns se tornam ministros e outros se tornaram até
presidentes (Washington Luiz e Juscelino Kubitshek). Porém os de maior
expressão na sociedade são artistas plásticos, comerciantes, joalheiros e
músicos famosos.
Para o Povo Cigano, a Lua Cheia é o maior elo com o
"sagrado", quando são realizados mensalmente os grandes festivais de
consagração, imantação e reverencia a grande "madrinha". As
celebrações da Lua Cheia acontecem todos os meses em torno das fogueiras
acesas, do vinho e das comidas, com danças e orações. Também para os ciganos tudo
na vida é "maktub" (está escrito nas estrelas), por isso são atentos
observadores do céu e verdadeiros adoradores dos astros e dos sidéreos. Os
ciganos praticam a Astrologia da Mãe Terra respeitando e festejando seus ciclos
naturais, através dos quais desenvolvem poderes verdadeiramente mágicos.
Na culinária cigana são indispensáveis: cravo, canela, louro,
manjericão, gengibre, frutos do mar, frutas cítricas, frutas secas, vinho, mel,
maçãs, pêras, damascos, ameixas e as uvas que fazem parte inclusive dos segredos
de uma cozinha deveras afrodisíaca.
Seus símbolos sagrados são: O
punhal, o violino, o pandeiro, o leque, o xale, as medalhas e as fitas
coloridas, o coral, o âmbar, o ônix, o abalone, a concha marinha (vieira), o
hipocampo (cavalo-marinho), a coruja (mocho), o cavalo, o cachorro, o galo e o
lobo.
Verbena, salvia, ópio, sândalo
e algumas resinas extraídas das cascas das árvores sagradas, são ingredientes
indispensáveis utilizados pelo povo cigano na manufatura caseira de incensos,
velas e sais de banho, mesclados com essências de aromas inebriantes e
simplesmente usados nas abluções do dia-a-dia, nos contatos sociais e
comerciais, nos encontros amorosos e principalmente nos ritos iniciáticos, de
uma forma sensível e absolutamente mágica, conferindo grandes poderes.
O grande símbolo geométrico do Povo Cigano é o Círculo Raiado
(representando a roda da carroça que gira pelas estradas da vida) provando a
não linearidade do tempo e do espaço; e o Pentagrama (estrela de 5 pontas)
simbolizando o Homem Integral (de braços e pernas abertos) interagindo em
perfeita harmonia com a plenitude da existência.
O maior axioma do Povo
Cigano diz simplesmente:
|
“A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha
faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria
natureza".
O Povo Cigano é também uma raça sofrida, discriminada, excluída do
contexto sócio-político-econômico (mas nem por isso alienada). Essa raça
perseguida por muitas "inquisições", levada aos campos de
concentração e aos fornos crematórios da Alemanha Nazista (tanto quanto o povo
judeu) continua existindo apesar de todas as espoliações e distorções.
Desprovida de meios adequados de sobrevivência, descaracterizada pela
modernidade de um falso intelectualismo essa raça também está à caminho da
própria extinção, mas estamos aqui exatamente para resgatar o que resta de sua
memória ancestral, cultural e artística, usos e costumes, simbolismo e
tradição.
Para mim, uma kalin (cigana kalon), descendente desse povo, essa é uma
hora em que precisamos estar atentos e vigilantes para ouvirmos uma espécie de
"chamado” que a dura realidade planetária está nos fazendo, e, nos unirmos
em corpo e espírito com as forças maiores que regem esse universo, deixando
para os espertos, que se dizem "donos da terra", o alto preço de seus
desmandos, desvarios e abuso de poder, nos concentrando, onde quer que
estejamos, no verdadeiro sentido da valorização humana que perpassa por
insondáveis mistérios divinos e praticando com honestidade de propósito os
exercícios de espiritualidade e religiosidade
em cada um de nós, na busca de uma solução para um mundo melhor, sem
esquecermos as práticas ecológicas para salvaguardar essa "nau de
insensatos" chamada Terra, de seu próprio desastre (palavra que significa:
desarmonia entre os astros).
Eu aprendi com meu Patriarca que os ciganos são "povos das
estrelas" e para lá voltamos quando morremos ou quando houver necessidade
de uma grande evacuação.
Há milênios estamos cumprindo nossa missão neste planeta, respeitando
e reverenciando a Mãe Natureza, trocando e repassando conhecimento. No mais,
deixaremos a critério da consciência de cada um o "porquê” das abomináveis catástrofes (em sua maioria
provocadas pela absoluta falta de respeito e conhecimento sobre a
biodiversidade do planeta) e de
comportamentos sociais e governamentais tão incongruentes com a própria
inteligência humana, reduzindo a sensibilidade dos homens a um mero exercício
da bio-pirataria para não perder o monopólio de um recurso genético, disfarçado
na necessidade técnica e científica da bioprospecção, mesmo que no contexto
histórico, essa atitude implique na extinção de toda a raça humana.
Deixaremos à critério de qualquer "gadjô" que se preze, o
"complexo de culpa ancestral" pela destruição do solo, do ar, da água
e das florestas, pois em vez de "progredir com a plena cooperação
científica e tecnológica" (como diria o biólogo americano Tomas Lovejoy -
especialista em florestas tropicais) o homem moderno destrói seu próprio
habitat, não procurando seguir a coerência do argumento socio-antropológico que
diz que "na sociedade de massas, o raciocínio individual precisa ganhar
tons mais coletivos para exercer seu poder e provar sua competência,
pressupondo uma melhor qualidade de vida e uma maior tranqüilidade planetária".
Sem precisarmos percorrer outra vez o desgastado raciocínio utópico do
socialismo científico de Marx-Engels-Lênin-Stálin, necessitamos urgentemente
pisar na superfície desse lindo "planeta água" (símbolo da emoção e
da sensibilidade que preenche nossos corações) observando não só a violência
praticada contra as minorias, como também os incríveis gestos de solidariedade
humana mostrados via satélite ou pela Internet, na mesma velocidade da luz ou
do pensamento humano, nessa era de virtualidade nem um pouco caracterizada
pelas mais elementares virtudes.
Como não sou também nem um pouco virtuosa e acho que o limiar entre o
sagrado e o profano é muito próximo, coloco em mim mesma a carapuça de parte
dessa imensa culpa pela minha própria acomodação e omissão em alguns setores da
vida, e, divido com todos os devedores planetários como eu, o ônus que pago por
viver na Terra nos dias de hoje, embora continue achando que é um privilégio
karmico poder ser descendente do Povo Cigano.
História do Povo Cigano
Texto: Cigana Sttrada (do clã Kalon)
Texto: Cigana Sttrada (do clã Kalon)
OBS.: Esse texto é a transcrição de uma Palestra
apresentada na 7ª edição do "Encontro para a Nova Consciência", em
Fevereiro de 1998, em Campina Grande – PB
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